14.11.09

mais duas

Pó Compacto

reboca com galhardia a face

outrora não se usava no verão

esplendida geratriz do disfarce

mística musa do senão

ao imiscuir-se de sua beleza,

tenaz provoca sentidos.

desfere ilídimos olhares,

para desespero do marido.



Lápis de olho

desvia furtivamente o verdadeiro olhar

e guia alheios a perceber o que bem entende

arquiteta góticas, patricinhas, descoladas

desenha humores, sintomas, e preces.

constrói cena pré-noite; como

é bela, a uma, aventurar-se

riscando as vistas,

em tragédias, amores não consumados

dias de emoção

provoca lágrimas negras, e

torna-se elemento delicado

ainda que manchado ao

dia seguinte.

3.11.09

Top Coat

fosco a fossa, foste luz
apagaria teu sentido

torço tosco leito enrosca
teus pés na minha boca

sacia vontades extremas
no âmago, no imo esteiro

beijo e beijo escantilhado
procurando o brilho leito

mas tenso pescoço não relaxa
como a leve mão não se encosta
reflete lépido tarado
como a amada é casca grossa

crédito da foto, clique aqui.

29.10.09

inveja boa

lustra moçoilas lúbricas

adorna redundante

a mão mais bela, ó

que bela seria


torna-se deusa única

de pernas abundantes

ama-se na banheira, só

provoca pantofobia


o rosto rubro.

provoca a queda,

inveja “vermelhecer”

açodada a excitação


quando do traslado

da doce filha de Eva

manda se foder

a costela de Adão

20.10.09

este, aquele, ou esse poeta

anseia a hipertensão, herança genética
que limita as bebidinhas e tira-gostos
e a vida abstêmica agrava a ansiedade
quando o labor excede a flor da vitalidade

(porém como bom poeta evita dar-se
ao luxo de respeitar recomendações
médicas, filosóficas ou psicanalíticas)

quando chega, finda dia, exausto
estende pés, pernas, coluna vertebral
no sofá a entornar pensamentos
encontra refúgio na amada
: e isso basta!

serve-se de leituras pouco ortodoxas
discos pouco conhecidos, exagera no café
sorve simpatia por seriados estadunidenses
e diverte-se ao cuidar de suas plantas


*publicado dia 20/10, editado dia 22/10, por motivos excusos e impublicáveis.

15.10.09

um dia eu saía do Mário Helênio
emocionado com um título do Galo Carijó,
e eis que ó:
um maluco com um sofá na cabeça.
quem me alertou foi meu camarada Gili.

Meu Galo Carijó é Psicodélico.


1.10.09

ECO - Performances Poéticas

Eco de outubro, com os convidados:

DAYSI AGUINAGA

LUCAS SOARES

LARISSA ANDRIOLI

JULIO POLIDORO


Segundo tempo: microfone aberto.

01 DE OUTUBRO, ESPAÇO MEZCLA as 20h
(Entrada Franca)

24.9.09

ping pong

poesia é algo controverso
pra não dizer contra-o-verso
algo maldito, feito doce
doçura
poesia é um proibidão
de fuzil na mão, é o erro dês-
elegante, tipo moça que
queda de sal-to-al-to
ao descer a escada. essa poesia,
essa menina, bem vestida
de esmaltes vermelhos, que adora
se olhar no espelho, esse remédio
pra vaidades e promessas vãs
essa tormenta pr’os vagabas
praianos de cabelo parafinado
essa desilusão cruel aos doutos
titulados, esse eterno
ping
pong
de oswald e mário.
esta poesia que só vale a pena
quando me adula, me louva
faz de suas linhas as
minhas, faz romper
com toda força esta barreira
esta arbitrária trincheira
entre arte e
vida.

12.9.09

Dúvida

Ao André Capilé

devo fazer versos inexoráveis
inextínguiveis? ou deveria
assinar o branco do papel
com marcas de meus amores

devo soar um poeta torpe?
ou um poeta soez? ser sossobro
rude, ou esperança delicada?

a despeito das contendas
devo rumar a um norte
ao menos [a um norte]
que não seja movimento
que a despeito, de ger(ações)
soe assombro, susto, sopro
bote, pó, que eleve
ou não leve
nada a lugar nenhum

mas que seja surpresa
onde reside o sustentáculo poético
de persistência da linguagem, sim

a surpresa

9.9.09

uma boa para essa sexta

Lançamento do Livro:
Mário e Oswald: Uma história privada do modernismo

de Anderson Pires da Silva.
Sexta feira 11 de setembro 19hs
na Casa de cultura Av Rio Branco,3372

2.9.09

ECO, minha gente!

Todos ao Mezcla nesta quinta!


30.8.09

eu, deus, e eu.

E então deus (assim com letra minúscula) mediante a minha aflição duradoura em saber como seria eu em forma de mulher resolveu me acalentar a alma e permitir que tivesse essa visão esdrúxula. Mas não sem antes me interrogar, afinal, deus é Deus. Ou seria, Deus é deus? Mas enfim, caro leitor, o homem, ou sei lá o que seria, me questionou com um olhar desconfiado: afinal por que tu quer ver como seria você, simetricamente, caso fosse mulher? Quer ter a experiência de alteridade máxima no gênero? Quer sentir a sensação de encontrar a alma gêmea de fato? E eu timidamente de frente ao todo poderoso joguei aberto ao máximo e disse que nada de grandioso movia minha curiosidade estranha. Eu estava até satisfeito com minha vida, minha auto-estima era algo razoavelmente resignada. Quando eu era magro demais conheci mulheres que achavam isso um charme e aproveitava disto para praticar esportes. Quando resolvi deixar a barba por desleixo, eis que vem os Los Hermanos e as meninas passaram a achar isso um charme. Quando engordei e uma barriga aqui nasceu me disseram com propriedade que barriga tanquinho era over, cafona. E eu então, ó deus que me interpela, sou muito feliz do jeito que sou. E o que me infelicita eu transformo em poesia e fica todo mundo achando lindo. Mas se tem algo que me deixa inseguro é que: se eu tivesse nascido mulher, como eu seria? Daria tudo pra ter a resposta a esse frívolo questionamento. Seria eu uma graça? Uma mulher decidida? Livre? E mais ainda, faria sucesso com os homens? E o deus, todo bonzão, disse que me concederia este desejo por alguns minutos e que eu agüentasse as conseqüências. E num passe de mágica (afinal como haveria de ser uma coisa de deus?) eis que repousa na minha frente uma garota de 26 anos. A primeira vista não me vi ali. Ela me olhou com cara desconfiada como se quisesse entender o que tanto eu olhava. Se vestia bem, melhor do que. Os cabelos eram estranhos. Fiquei injuriado que minha similar não tinha um nariz de respeito como tem essa minha raça. Eu tentei explica-la o que estava acontecendo, disse que ela precisava participar intensamente da minha experiência para o bem da minha humanidade e que eu queria ter a sensação de dar um abraço em mim mesmo, na versão feminina. No fundo eu queria era saber se eu cheirava bem. E, caro leitor, eu lhe digo que o perfume era bom. Apesar do abraço não nos demos bem. Saímos para beber uma cerveja e a única coisa em que concordamos: a pinga era algo supremo. Eu dormi na mesa depois da quinta dose e ela parecia estar firme, e descobri: minha versão feminina não devia ter insônia, afinal esta maldita dificuldade de dormir me mata e me faz ter sono depois de beber e às vezes provoca amnésias horríveis. Ela comeu meu chouriço e eu achei isso terminantemente uma péssima semelhança já que eu achei um dia que era a única pessoa do mundo capaz de matar a fome comendo um prato de chouriço apimentado. Por fim depois de bebermos tanto fomos pra casa ouvir discos de vinil e eu achei que pudesse até rolar um clima comigo mesmo, mas a sensação era horrível. Ela riu de mim e disse que eu era um neurótico e me permitiu até sentir sua textura corporal e eu até me achei gostosinha. Antes de acabar o LP Clube da Esquina 2, o deus tão cruel, interrompeu a experiência e me levou eu mesmo de lá, se é que o leitor me entende. Antes do chefe partir agradeci e disse que estava satisfeito, mas que gostaria de pedir qualquer dia desses que ele me permitisse uma experiência nova. E o deus ranzinza me mandou calar a boca e foi embora resmungando alegando que tinha coisa mais importante pra fazer, como conseguir mais seguidores no twitter e assistir Usain Bolt desafiar as regras criadas por ele.

24.8.09

sutilezas safadas*

primeiro ato, soa a campanhia (eu tremo)
burt bacharach's geatest hits
desliza insolentemente na vitrola

segundo ato, [onde está o abridor?]
eu bebo.
eu bebo...
mas não desgrudo os olhos do teu an-
dar.
(desde sempre estive curioso pra ver se teus pés
são isso tudo mesmo
: e são)

terceiro ato, eu descobri a ver-
dade
cinco vezes mais cicatrizes neste corpo
que eu imaginava, mas gostei

quarto ato
eu paro e escrevo os secretos versos
que peço que não conte a ninguém:

menina linda
que luta
menina branca
que dança
mire teus olhos
neste pedaço de mim.




*este título eu adotei na marotagem, na mão grande, afinal quem sugeriu foi o poeta André Capilé, e eu gostei e agora é meu, perdeu preíbói.

8.8.09

café da manhã

os pés brancos translúcidos de
falanges falanginhas falangetas
marcadas pela magreza elegante
que roçavam pela manhã no meu

pedindo um café da manhã,
mas não, é cedo pra sair debaixo
do edredom, é tarde pra terminar nosso
estudo anatômico acerca da veias azuis que
cismam
em transparecer por este corpo
branco, ainda é cedo.

pela tarde peça torradas ovos quentes
leite morno
café
peça e implore pra que joguemos toda esta
joça pela janela
e que termine tudo em coito louco
pr’aqueu prove a ti
que teus olhos me excitam mais
que as marcas deixadas pelas tiras
da sandália de salto alto.

4.8.09

16.7.09

ando escrevendo uma tese (dissertação?) de mestrado. tá tudo atravan -
cado: vida dura
mas eu
vol-
to.

7.7.09

sou igualzinho a você

eu não li Borges
eu não fui na flip
eu não gosto de cineastas
eu não sou junkie
eu não sou anti-acadêmico
eu não gosto de vodka
eu não gosto de ramones
eu não conheço HQ's
eu não gosto de jovem guarda
eu não gosto de kitsch
eu não louvo chico buarque

eu gosto de azeite borges
eu sei dar ollie-flip
eu amo cinema
eu até me dou bem com junkies
eu odeio normas abnt
eu gosto de pinga
eu amo clash
eu adoro chargistas
eu não gosto de jovem guarda
eu adoro vintage
eu ouço chico buarque

dizem que tô perdendo tempo na vida
mas sou igualzinho a você

26.6.09

sambamar

sambamar
samba no mar (alguém já cantou)
samba pra amar
no armar (do corpo quente)
no armário (da vaidade)
armado peito forte
samba na cela,
em sesta
na escolta
na selva
no colo
no escopo
samba lá
samba nela, faz dela
passista, assista a miséria
que ela faz com os pés
na passarela e a passar
ela não resiste ao passar
por ela, toda assim
sambamar
samba pra amar
samba assim

17.6.09

Juiz de Fora é a cidade mineira menos barroca.
Aqui a mineiridade não é clichê. Nem blasé.
Não temos a procissão. Só a possessão.

Tupi or not Tupi, that’s the team.
Ou fantasma do mineirão. E as pesquisas oficiosas comprovam: cresce o número de torcedores de times da capital do estado, reduz o de seguidores das equipes da capital do império.

Aqui o tira-gosto nos butecos é o melhor do estado, quiçá do planetinha. Haja estômago.

Letras. Não citarei Murilo Mendes, Nem Affonso Romano. Nava, filho adotivo do Caminho Novo, é quem melhor descreveu tudo isto. E um pouco mais.

Basta assistir TV e desencarnar do corpo tendencioso e verá. As pessoas daqui tem um irrmediável sotaque mineiro. Mas é preciso assistir TV.

Seria covardia falar de música. E ponto final.

2.6.09

Deixa eu te contar_( à memória de Ana Cristina César)

deixa eu te contar que eu sinto saudade
deixa eu te saudar na subida pr'o quarto
de nós dois. deixa eu resguardar teu parto
que eu transo um amanhã pra nós dois
deixa
deixa pra depois
não esqueça de teu comprimidinho
a vida é assim, felicidade em caixas
não rasga
minhas cartas
que quando, um dia,
assim como alguém que nada quer,
eu for
de velhice, ou de airbus
você se lembrará pra sempre de mim

Ana Cristina César