26.7.10

SANTA GULA

santa fome sacro pão saco de bala

vai na mão, não abre olho, só adorna pé.

é cor
é hype
é nude
é patricinha balonê
é sujinha démodé
é neo-hippie no salão.

se faz cor altera o céu.
lendo quadrinhos penetra o personagem; dá cor.
no violão enfeita acorde.
no marido enfrenta a corda.

é gula, gulag, gola, gole, golfo
vontade acima a santa missão
satisfação acima missa santa.

é nada santa, sainha curta
sandália-salto, alto falo.

é mãozinha segurando, vodka com energético.

Foto by Grenphex - Original aqui!

6.7.10

Bilhete

desculpe o rompante, assim cedo,
é parte de mim chegar e sair.
sempre, à forma me ergui, a sair de mim
em meio às minhas falácias e flores

nada pessoal, mas existem lábios
criados pra se manterem distantes.

um poeta é um perdedor a procurar gnoses
nos escombros de uma vida atribulada.
este bilhete que fica, na porta da geladeira
no espelho, manuscrito em batom,
na poeira riscada da velha cômoda
nas gotículas de calor da janela do quarto
na beira, pendurado, balançando os pés ao infinito
na fúria de teu despertar sincero,
este bilhete, que apenas fica.
deixo-te a dormir, lendo meus manuscritos.
me faz bem.
e retorno a minha casa,
na esperança que um dia entenda
por que parti.
assim


Foto gentilmente "cedida" por Maximiliano Thomas, um argentino nota dez. Original aqui.

5.7.10

Sentido

já fui de promover furacões,
dobrar esquinas a grito.

já gritei contra as cores da moda,
a fazer de assunto, o botequim
quando ainda havia esperança.

entendiado hoje, sagaz amanhã
procuro sentido nas coisas mais
menos.

no semáforo que pisca amarelo
à madrugada.

no cheiro enjoativo, mas presente
do desinfetante da faxineira.

no pó de giz que circunda as costas
de todos casacos.

no way of life, vintage, old school
and more, de meus estrangeirismos.

na habanera cubana proto-tango
proto samba. Pronto, sempre.

nas lágrimas do primeiro gole
da Coca Cola.

Na barba de Haroldo de Campos,
tão branca e bela.

Na expressão doentia de um Felipe Melo,
que pisa no pipoqueiro holandês.

No semba, zamba, que origina o samba,
e eu sempre vou.

quando provocava furacões
eu era menos observador,
e hoje o sentido, faz jus a palavra.

a febre
a fibra
o toque
o friso


nada disso mais
é literatura.