21.10.10

Compre almas

Expresso em
descontentamento a morte das palavras, e
o virulento êxito da imagem

que vence o som da fala, das bocas em palavras

e dos gestos que acompanham
as letras que desafiam a imaginação

(o poeta de nada serve nesta terra,
se um dia serviu, teu reino foi deposto
e o poeta nada tem com esta cercania)

expresso em
agouro
o ouro dos tolos
que me seduze, ou tentam
às favas das tolices
das
tecnologias, estéreis
que nada me fazem sentir

a arte deveras monolítica hoje
é apêndice
de cartazes
publicitários


- COMPRE ALMAS
enjoy

Por que a vida contemporânea é um slogan
E a tv inimiga obsessiva da insônia

Banksy

14.10.10

Etapas da noite

Em homenagem a um gênio chamado Aldir Blanc



a primeira etapa da estada
de um cara, poeta qualquer
num boteco da vida
é simples:
bebe a cerveja gelada
para amansar a garganta
para os papos mais cabeças
da vida.
Dos desagrados ou dos benfazejos,
eis que surge a cachaça.

neste momento filosofa-se,
sobre a cana, o engenho, o alambique
a sorte dos escravos, trocados por
tabaco, o carvalho, o animal
que nas costas faz tração pra nascer
o melado.

nem mesmo os mais bravios
tem estômago de aço,
e é essa a função
do tira-gosto: desfazer
o mau agouro.

e o boteco é apêndice
da xepa ingrata,
onde come-se a moela,
o coração, o chouriço,

e a pimenta vem
fazer tipo
como quem nada quer.

o final da noite
parece fim da vida
abraços, juras de amor
beijos sinceros

vem o
adeus ao bar
como quem se despede
do amor proibido

4.10.10

Poesia - Auto-Biográfica



meu nome é tiago rattes de andrade nascido ao sul das minas geraes ao ano de nosso senhor oxalá de mil-900-&-oitenta-e-2, mas poderia ter nascido em dogtown-CA e seria um Z-boy feliz da vida, democrata, patriota. vegano radical, mas como não moro na praia sou assim, eu mesmo. careta. sou juizforano por adoção. estudei em escolas religiosas e isso me ajudou muito a ser uma pessoa sem religião. escolhi ser historiador por que achava que só aulas de história poderiam ser legais. escolhi ser cientista social por acreditar que ser cientista de qualquer joça lhe dá algum respeito. escolhi ser poeta por que me amo, quero ser amado, quero amar tudo quanto é gente que passa por aí. e quero ganhar um milhão de dólares com isso. apesar do nobel só pagar 500 milhetas, that´s right? já namorei muito. e isso basta. sou pró-palestina e que se foda o resto. acho uísque uma bebida boa, mas não vale o preço. adoro carne gorda e amo saladas. como carne com peso na consciência. separo meu lixo reciclável. sou radical. odeio quem não tem posição. adoro coca-cola. odeio cada dia mais assistir tv, tenho desistido de ler jornais. viajei pelas minas dos matos gerais e choro em cada despedida. choro quando ouço “calix bento”. choro quando ouço “caso comum de transito”, choro quando ouço o hino do tupi f.c. cresci aprontando todas peraltices munido de amigos pelos quais ainda hoje morreria, daria uma vida. e isso foi num bairro, onde as ruas eram de pedra. fiz guerra de mamona, e hoje a guerra é contra a insônia. fiz cerol, mas parei de passar o cerol em geral, bem cedo, se é que me entende. ao contrário de milhões de neuróticos eu só tenho a agradecer aos meus pais. pretendo envelhecer com saúde afinal esse papo junk de “viva pouco/viva rápido” não cola. eu quero ter é saúde e gozar da cara desses trouxas que morreram cedo quando eu tiver meus cento e poucos anos. e que deus abençoe que sejam todos estes anos de intumescência.