28.11.08

Inspiração no Gingado Chiclete

Putz, tenho tido dificuldade de escrever. Sim, reconheço. Tive belos momentos de escrever 5 ou 6 poesias num dia e achar tudo lindo e tal. Nas últimas semanas o espírito acadêmico tem me tomado e me deixado meio chato. Não sei se a leitura de Guimarães Rosa também não está trancando meu corpo poético e me embaralhando nas palavras do escritor mineiro e me deixando quase acanhado de escrever meus versinhos à margem. Enfim, sei que dar uma saída pode me ajudar. Boêmia é sempre algo interessante pra estimular a fabriqueta de versos loucos. E até uma ressaquinha ajuda a pensar melhor sobre os efeitos colaterais da vida. De qualquer forma guardei pro Eco do dia 4 de dezembro - Mezcla, 20:30 - algumas coisas que julgo eu, são boas. E estarei lá. Fominha total, querendo falar em verso pra essa gente bronzeada. Tchu-tchu! No mais, em breve volto pra falar do Sarau do Festival Juventude em Foco.

Pra não perder a viagem deixo uns troços aí. Besos!

minha lindinha, não se desepere
não espere
masque todo seu chiclete
de maçã verde, respire
inspire o hálito
verde
inspire
-me
teu poeta, que se sente
mastigado por teu gingado
de chiclete
tua boca aflita
lábios adolescentes,
insandecem minha existência

22.11.08

Desabafo

essa vida é uma aposta furada estapafúrdia
um sem fim de versos marginais
dissonantes como os acordes mais
fortes, da guitarra de Lúcio Maia
rasgados, mal-educados, diacrônicos
sílabas apertadas livres
apertos incontáveis
tristes, tipo
uma nóia de Manu(el) Bandeira

Meu caro poeta, aprendi errando
que a palavra é arma mortal
um puta tiro que insiste em sair
pela culatra
e atingir a boca errante
de quem fala
a amarrar as mãos de quem
as escreve
a palavra é forma ingrata tal
o corpo de quem recebe as doses
alopáticas do bombardeio poético
e de cara fechada
vê a vida passar.



p.s: Importa mesmo é que o Galo Carijó é campeão. E eu estava lá.

16.11.08

palavra.delicia.coxa.wally

hoje eu acordei pensando em wally salomão, wally sailormoon
em conseqüência provavelmente da madrugada de ontem onde
conversamos bebemos ouvimos música de boa qualidade e a poesia
flutuou na minha cabeça como tem acontecido nos últimos meses
tenho ficado elétrico falando mais que a boca escrevendo mais que a pena
penando mais que a escrita bocando mais que a fala e nada de bocar o falo

o chacal é meu mestre quero ser como ele escrever pra sempre ser poeta
pra sempre transar poesia eternamente com estilo e leveza de se saber
poeta tipo goiaba que é uma palavra gostosa no rio de janeiro fevereiro e março, alô , alô seu chacrinha
e olha que sou mineiro absorto quase escroto de tão bairrista fiel como fel fe-la fe-la-la
aprendi isso com o lô borges (não ser absorto) mas ter bom gosto ao escolher o berço (e o túmulo)

enfim como só parei aqui pra escrever pro Wally Salomão, deixo uns versos pra este poeta, que nos deixou tem tempo:


uma palavra recatada é uma não-palavra
palavra boa é aquela que chega
como quem quer o mundo
chega pra ficar, tipo perfume
mulher bonita, bem vestida
uma palavra como
D-E-L-Í-C-I-A
que deixa todo mundo se perguntando
se é uma
gostosa moçoila
ou se era um refinado prato
de louça
mas palavra forte
deixa um certo medo
uma sensação incompleta, do tipo
que se sente quando se pronuncia a palavra
C-O-X-A
coxa é palavra interessante instigante
coxa da moça de fora pra fora
coxa da senhora matreira que um pedaço
mostra
coxa é onde para a meia daquelas roupinhas
sensuais que eu esqueci o nome
ou coxa de galinha que eu como feito viking
bárbaro barbarizao barbbudizado desbarbado babando
babado babador
de tanta fome que me dão as
palavras


Em dezembro tem ECO POÉTICO, No Mezcla, na primeira quinta do mês. E tenho dito.

15.11.08

Você já viu uma mulher derramar lágrimas pretas?

Eu já vi. E ouvi. Na voz do 3 na Massa, que aliás é a grande surpresa da música prapular brasileira (dois caras da Nação Zumbi + um cara do Coletivo Instituto). Todas canções tem relação com o universo feminino e são cantadas por diferentes convidadas, entre elas a Céu e a Pitty.Cuidado que vicia.

www.myspace.com/3namassa

12.11.08

ESPERANÇA

meu camarada, não coloque agora seu pijama
não curta uma de aposentado
ainda é cedo, eu sei
não escreveremos os mais belos clássicos
mas nossos versos serão fantásticos
e medidos na nossa capacidade
de sermos moleques
nas ruas desta cidade

let it be, let it be
qualquer coisa
ao som de um eletrotango
vamos chutar as
coisas amenas, como dizia o
velho Leminski
todas armas son buenas
vamos tomar de assalto
as ruas desta cidade
vamos versá-las em nosso
grosseiro tupiniquim
e dominar cada banco de praça
cada botequim

5.11.08

Meus heróis não morreram de overdose

não tenho saudades dos 80 nem tento
a tento nostalgicamente viver o que passou
não sinto falta do desbunde nem
me abundo em sofás empoeirados
ouvindo discos arranhados

talvez tenha gostado um dia de me ver
no Arpoador aplaudindo o por do sol
mas param por aí minhas vontades anacrônicas

eu não amo o que não fui
nem sonho com o que seria
prefiro o doce risco do desconhecido
do incerto que me cerca num dia a dia
e prefiro as palavras de meu tempo
os dilemas
os poemas
tão nossos, intrisecos aos ossos
do ofício
do indicio
do orificio do relógio
que não para

tenho meu lugar, meu burro está na sombra
mas eu estou no sol, queimando o pavio
o fio
curto da nossa idade
em grandes escalas, gigantes cidades

meu combate, verdadeiro embate
não mais é com ditadores nanicos
com censores ridiculos
meu algoz é o dono da TV
o economista global que canta
e encanta com seu mantra oficial
e manda para a puta que o pariu
os sonhos mais simples dos moleques
da esquina

não, não sinto saudade
não sou deste tempo passado
com trilha sonora chata de tecladinhos
enjoados, cabelos laqueados
a musiquinha deprê não faz minha cabeça
o sol da praia não faz minha barba
nem faz minha cabeça barbara
que não chora pelos cantos

eu sou daqui
eu sou de agora
neste hoje sem ontem
é que minha alma chora

desculpe poeta
mas meus heróis
não morreram de overdose