11.6.12

Lição

foi assim. aprendemos juntos a extrair corações vivos, pulsantes, de peitos quentes e acordados.

eu lhe oferecia facas e ferro quente para cauterizar. você sempre escolhia colheres.

nunca nos importamos com os restos. o sangue.

um dia, escrevi em teu peito nu, com o sangue, minhas iniciais. você se comoveu e deixou cair as pálpebras sobre os olhos tão lindos que me observavam. dormiu. e para não demolir a ideia de que eu sou intransigente, esperei teu mais profundo sono para colocar sua música predileta no toca-discos.

havia silêncio. apenas um leve assobio da janela entreaberta avisava que havia algo de vida do lado de fora.

aprendi que as doçuras só fazem sentido se forem usadas como ataduras para as maldades mais íntimas. que se lágrimas não nascem da felicidade das pequenas coisas, podem cair através das mais delicadas brutalidades.

brincar de dialética.

rabisquei versos no ritmo de tua respiração inquieta.


feito, circunscrito a calma
alma, um grito que foge
o peito.


desisti de cruzar rimas. fui cruzar pernas na cama quente habitada por ti. finita. mas quente.




4 comments:

Anonymous said...

Sangue substancia cardeal do amor e desamor

Florbela said...

é como se o vento da janela fosse fio de esperança

Unknown said...

Bom mesmo é aprender juntos.
Porque mundo que se vive junto tem outras cores.

Bela prosa, poeta.

Nina said...

Que beleza tudo isso!
Bendito angu.