14.2.12

16° andar

risca chão que brilha, recepção de hotel.
exige, comprime, inventa - quer as chaves.
recepcionista quer não entender, mas expira.

sobe elevador, exausto. encosta, recosta.
analisa barba no espelho,
: sente o próprio cheiro.

deixa que os olhos brilhem.
angustia que sai. molha os lábios.

atravessa corredor, passo em dobro,
bate na porta. afoito, descansa em uma
imagem:

[ela, cabelos de quem acordara há pouco,
blusa branca, saia, pés descalços,
olhos lindos, boca que quetiona]

* não há tempo *

invade, avança, acorrenta, apressa.
há tempo de dizer:
- deixe todas as marcas que consiga.

pernas que se cruzam, em braços apoiados
: entrelaçados.
fios de cabelo que irão embora.

*o jogo de espalhar roupas pelo chão.*

em beira de cama, corpos se abrem, arquea-ea
lombar, lombrar, coluna, doce, folar.
esfola, afora, abre - permite entrar.

- desde que não saia nunca!

cavalga espécie de rito, por cima
assunta.
arranha, puxa. leva soco.
olho fechado.

pra ele são paulo era só um inferno,
para ela, Minas só uma imensa fazenda.

sairam prometendo prestarem-se
serviços de invasão, em terreno neutro.

promessas feita sob o vento, da janela aberta,
do 16° andar.

foto: Daniel Friedman

10 comments:

Anonymous said...

hum, tá na cara hein :P

Renato Lopes said...

a dualidade minas x sampa presente sempre no poeta tiago rattes. não tem solução. ainda bem. bravo, camarada.

Anonymous said...

É o poema

que te atormenta

, poeta?

Anonymous said...

É o poema

que te atormenta

, poeta? [2]

Tiago Rattes de Andrade said...

é os soco. o arranhão. e tudo mais. mas vai saber, né? poeta é assim, dizem.

Anonymous said...

Daria quanto

, poeta,

para estar agora

no Inferno?

florbela said...

eu daria tudo pra estar no inferno desse poeta.

Tiago Rattes de Andrade said...

depois como sai?

Anonymous said...

pra quê sair? :P

Kadu Mauad said...

Como diria esta fraude que vos fala...

Do Inferno ao Paraíso

Na mata virgem e atlântica
fui do Inferno ao Paraíso.
Que nem Virgílio a Alighieri,
por guia tive Dionísio:

Na colina de teus seios;
na praia de tua pele;
nos álamos de teu pêlo;
e no perfume que expele;

Na brandura de teus lábios;
na bruma de tuas mãos;
no sândalo de teu púbis;
e no ardume do ferrão;

Na música de teus flancos;
na ânima de tua língua;
no cântaro de teus olhos;
e no lume que não míngua.

Fartei-me desta ciência
que é saber ao agridoce,
cuja carne soube tenra
na eternidade que trouxe.

Na mata virgem e atlântica
fui do Inferno ao Paraíso.
Que nem Virgílio a Alighieri,
por guia tive Dionísio.