11.2.11

Miguel e Luiza - II

Só não se sentiu mais surpreso porque queria atender ao telefone. E caminhava tentando não se abater pela indelicada observação da convidada. O cansaço que lhe tomava parecia tornar a tarefa de encontrar o telefone ainda mais difícil e nessa hora praguejou contra si por ter optado por um sem fio. Nunca estava no local adequado.

Atendeu sem conseguir reparar o identificador de chamadas e enquanto uma mão juntava o telefone a sua orelha a outra apalpava o sofá onde buscava refúgio da sua tonteira e de seu cansaço.

- Alô, disse ele, sem esconder a voz transtornada.

- Salve, salve seu cachorrão... Está vivo? A voz do outro lado era baixa e aparentava escárnio.

- Quem é? Ele perguntava enquanto tentava observar sua situação por baixo da cueca. Achava que poderia ter algum indicio do que realmente acontecera no dia anterior.

- É João, porra, teu chefe honorário. Dizia isso rindo como um cachorro velho.

- Ah, diga, meu caro. É que estou um pouco gripado. Ouviu uma risadinha abafada vindo lá do quarto e isso o deixou realmente excitado.

- Vai poder trabalhar para mim esta noite?

Ele pensou duas vezes. A ressaca daquela manhã parecia que nunca terminaria. A dor de cabeça que lhe dominava o impedia de tomar decisões. Resolveu levantar para tomar uma água e quem sabe pensar melhor sobre o assunto. E enrolou:

- O que seria?

A voz do outro lado parecia surpresa.

- O de sempre. Afinal você sabe fazer outra coisa?

Enquanto bebia a água procurava sua carteira. Era de praxe depois de uma bebedeira temer pelo dinheiro e seus documentos. Encontrou-a na mesa da cozinha e abriu com os dedos utilizando uma única mão. Concluíra que a noite anterior havia sido dispendiosa, e não hesitou:

- Sim, claro. Diga onde, e a que horas...

- Buscarei você na sua casa as oito, pode ser?

Ele achou ótimo.

- Claro, te aguardo.

Desligaram e ele sentiu alívio, já que se trabalhasse naquela noite poderia restituir os gastos anteriores. Odiava ficar duro e ter que se privar de suas bebidinhas prediletas, de seus cigarros e principalmente das boas comidas.

Voltou ao quarto ainda pensando sobre o trabalho e deparou-se com a sua convidada de pé. Era uma jovem de pele clara, cabelos curtos, corpo bonito. Ela se inclinava para vestir a calcinha e deixava transparecer ao ficar em um pé só, uma doce barriguinha, daquelas puras, aparentemente compostas quase exclusivamente pela pele. Ao vê-lo, a doce menina transmitiu um sorriso que ele achou demasiadamente sincero. Ela acabou de vestir a peça íntima de frente para ele, fazendo um movimento pélvico como se o chamasse. O anfitrião fitou suas mãos delicadas que tocavam a calcinha levemente e subiam em um gesto quase ensaiado. Ele sentiu este movimento ondular como uma provocação. Reparou que ela era alguns centímetros mais alta do que ele. Tinha no braço esquerdo algumas tatuagens que tomavam o ombro e no mamilo esquerdo um pequeno piercing que dava graça aos seios médios.

Atendeu seus instintos e sem muita conversa resolveu tomar a pequena em seus braços. Deu-lhe um beijo sem temer os hálitos matinais pouco agradáveis e nem reparou se de fato havia algo de errado com isso. Ela correspondeu e lhe abraçou na altura da nuca, acariciando seu cabelo. Tomou-a pelas nádegas e ela como se soubesse o que ele queria cruzou as pernas rapidamente em sua cintura. Demonstrando muita habilidade, tombou o corpo para a cama como se estivesse em casa. Ele caiu por sobre ela e fizeram amor com muito vigor, sem respeitar as limitações dos corpos ressaqueados. Ao final a cabeça latejava, o suor escorria pelo seu rosto e o silêncio predominava. Ao retomar a respiração ele olhou para o lado sem virar o corpo. Ela fez o mesmo. Entreolharam-se, pela primeira vez com algum aspecto de cumplicidade. Ele estendeu a mão trêmula e disse:

- Muito prazer, meu nome é Miguel.

- Luiza. E o prazer é todo meu.

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