25.11.10

100 km

era a garota loira e seus pés pequenos a balançar, deitada de bruços. era a beira e todo alpendre, varanda, beiral, parapeito. era o sorriso tonto, a boca seca, os olhos grandes da garota que era. era a vontade do vagabundo, sua camisa larga, suas olheiras. sua vontade de dirigir 100 km era; a busca da garota loira dos pés que balançavam.

era só buscar a garrafa de espumante e a caixa de trufas vagabundas na loja de conveniência. era ajeitar os óculos de grau, velhos, tortos, controlar as mãos no volante, olhar sempre o retrovisor, era, ansiedade.

era tocar a barca em frente, estrada afora, desejo a dentro, esperar as promessas de amor e tesão, da loira e seus olhos grandes, de que "sim, meu amor, hoje eu sou tua, sim, lindo, vem desse jeito, mas vem rápido". era.

era esperar que a repulsa de outras noites troca de nome com o afeto, que marcha, em riste a força de vontade. era.

era um carro. vai noite a fora 100km noite adentro, rasgando estrada, contornado poeira, zunindo pneu no asfalto. a fim de chegar cedo pra fazer a que veio, a que é. era.

4 comments:

Andre de Freitas Sobrinho said...

se era.

Anonymous said...

queremos saber a onde 100km leva, de juiz de fora, ao mundo. queremos saber quem é a loira. LOL

Kadu Mauad said...

Lindo!

Acho que não vem ao caso saber quem é-ra (sim, "eu sei, vocês vão dizer que foi tudo mentira". Nada. essa escrita de escansão é didática mesmo! E daí?).

Muito vale esse assunto pego pelos três pontinhos e que deles ao fim se prolonga a outros; o pretérito realmente foi o que está sendo nele ainda, imperfeito. A lógica intrínseca do verbo mostra que o aspecto temporal é tanto onírico quanto o é a vida fora dele. O sonho nos oferece esse tipo de realidade inconclusa que de modo solto, vago, indefinito, perpetua-se. Seja real, dormindo, seja fictício, acordado. Impossível se torna a exata noção de saber onde, quando, como, para quê, por quê, com quem, para quem.

É por aí. Já é?

Anonymous said...

Até que um dia vem a ser
<3