2.4.12

desagradável poema

Ao Anderson Pires da Silva
“O poeta contemporâneo tem de ser perigoso como Dante foi perigoso; uma força respeitável frente às demais forças sociais”  Mario Faustino


não sou um poeta pós-utópico,
nem ao menos idólatra vil
da materialidade da linguagem,
de pesados livros de estética.

a poesia esotérica ficou
nos meus idos anos de espiação,
quando antes, havia sido surrado
pela concretude das palavras.

[alguns diriam que esvaziei a alma cedo]

nunca andei à margem que não fosse
a da linha férrea do subúrbio,
onde a poesia proibida, nascia
em bocas mudas e olhos fechados.

[vem daí a libertação da alma pelo samba]

§ onde parece que nada sobrou, restou um caminho.

uma trilha de sombras e riscos,
onde a esfera da experiência
conjuga-se no dar vida a vida,
deixá-la ser capturada pelo
imenso abismo da linguagem.

dentro dessa rapinagem, afoita
estranha, dolorosa e envaidecida
tudo será enorme e arriscado.
um jogo sem volta onde esse ser
: poesia! tem vida e vontade própria

resta - e não é pouco - abrandar
o sufoco, e centrar-se no lodo
escorregadio mas permissivo,
de ser perigo, surpresa, susto,
inquietação, rude assombro.


4 comments:

Bruno faria said...

mas que porrada na lata! incrível!

Maria said...

poesia não tem mesmo que ser agradável.

Anonymous said...

poetas parecem se divertir indo de um lugar a outro, se "indefinindo". talvez curtam não só ser surpresa, ou perigo, mas ser tudo e nada ao mesmo tempo. é uma bela reflexão esse poema. não que eu ache muito valor na metalinguagem. mas cada um tem suas fases ou se impõe a ase que bem entende.

Kadu Mauad said...

Continuo acreditando que há poemas seus que são prosa em verso. Enfim: o que for... deu.