27.12.11

o último trem

roçava o fundo da bolsa com as unhas
estragando o esmalte feito há pouco
em busca do perdido bilhete do trem

a franja tocava o rosto levemente
atrapalhando os olhos indecisos
até que parou diante um espelho

[ainda na estação]

- reparou que os olhos fundos
inspiravam indecisão sombria.

correndo em um pé só, descalçou-se
trazendo os sapatos na ponta dos dedos
para que pudesse correr e alcançar

[a composição que enunciava partida]

- ofegante tomou assento junto ao corredor
sem perceber que eu ocupava a janela.

saudei-a com as sobrancelhas,
fazendo questão de desviar o olhar
guardando a certeza de que a longa viagem
reservaria outro momento adequado
para o derramamento de sangue.

2 comments:

said...

Forte, interessante. Estou digerindo!

Kadu Mauad said...

isto é um mini conto!