17.12.10

Dezembro

dezembro este mês molhado
com gosto de natal e ano novo
mês de poesia
mês que o verso sai por aí
atrapalhado a inundar meus papéis
e minha cabeça

numa loja qualquer tento escolher presentes de natal
entre um café e outro
busco nas outras sentido pra vida
nas outras histórias nos outros
tombos, recaídas, reerguendo a caneta
que desliza incólume pelo corpo
que vira poesia

dezembro me sorve tipo onda
brisa, crista, de uma loucura qualquer
dezembro, desalento
um embro, um emo, um dêz
a dezembrar este coração leviano
e isso que quero deste mês
leviano

que leve o ano
que leve quanto
pena, o penar

quero um ano novo, uma virada
leve feito seda e que não falte
a seda, leda,
o ledo engano de que tudo vai se repetir
na vida de um poeta
sagitariano
funcionário público
que publica seus sentimentos mais
impublicáveis
que encana no doce gosto da cana
e troca a cama
pela mesa de bar

dezembro já vai, já vai tarde
vai de táxi, vai de ônibus
sai de perto, vade retro
pra longe anunciando pontes
dietas, regimes, abistinências
policiais diligências, gritos histéricos
ecoando pelo hemisfério

dezembro se vai
foi
embora,
embora as mais velhas vontades
nostalgicas, taradas
insistam que fique
pra tomar mais um copo

2 comments:

Kadu Mauad said...

Lindo.

O eu-lírico tem essa vantagem de condensar a emoção em letras.

A difícil relação em presentear o outro. Está implícita nesta troca um espectro amplo de símbolos. Em um simples presente, pode-se ler o julgamento que um tem a respeito do outro; o que um deseja para a vida e o modo de ser do outro; qual é o tipo de relação que um e outro têm entre eles naquele meio sócio-afetivo.

Alguns anos atrás, soube por minha irmã, que no Amigo Oculto promovido pela turma, acho, da academia de ginástica, tinha que presentear - seu amigo(a) oculto(a) com uma coisa que representasse a sua opinião sobre aquela pessoa - até parece coisa do departamento de RH! - e que a fizesse repensar sobre si e sobre a pessoa que a desse o presente. Muito bem, só sei que uma mulher que tirou outra mulher deu um presente que a estimulasse a passar a fazer algo, que no seu ponto de vista, viria a calhar. Em cada cabeça um sentença, mas ficou um clima despojado de vaidades, muito comum em ambientes que têm por essência o culto ao corpo. Não sei de quem tenha vindo a ideia, mas achei inovadora.

Realmente, existem milhares de critérios na escolha de presentes. Ultimamente, tenho pensado muito no caráter utilitário que aquele presente terá na vida do presenteado. Um par de meias, um trio de cuecas, um avental, dependendo do contexto podem todos quebrar o paradigma que é o invólucro metafísico de cada objeto desses. Olha, um quebra-cabeças é um presentaço para uma pessoa dispersiva exercitar concentração, ansiedade, por exemplo.

De certa forma todo presente diz muito sobre quem oferece e sobre quem recebe. Acima de tudo, o que vale é uma boa dose de bom senso sempre.

Eu, já deixo aqui os meus fraternos amplexos e ósculo, Tiago. E saiba que você é presente aqui na área central desse peito poético que vos fala.

Juliana Stanzani said...

De tão denso
vem esse dezembro
escorrendo-me embaixo da cama

que tão afoito se vá
com tanta urgência necessito

que tão a jato se vá
expresso o café
o mês

Olhe, a fuga é imprescindível
E o taxi
por minha conta.