eu disse a ela que olhasse a vermelha marca do céu que saía da fissura das nuvens, o elã, intenso, partido. mas ela não olhava. insistiu na velha história que seu vestido vermelho não o era.
- é apenas o reflexo do céu, meu bem.
- e por que não olha o céu?
- por que gosto dele assim, vivo nos teus olhos.
o silêncio. uma arte, da tranquila cumplicidade estéril. o mar, em som estereo. quadrifônico, como a qualidade oferecida e nunca obtida nos discos que comprava.
e fez-se uma maré estranha.
havia o cheiro bom. havia a restinga. o farol apagado. restos de vida na areia. e de novo havia silêncio.
só interrompido quando ela ergueu o braço. a sonoridade do bater e rebater das pulseiras. umas nas outras, como se fossemos nós. estilhaçar ouro, prata, cobre.
cada grama era reluzente poeira. como se ela fosse a magia. e fazia isso sorrindo, apertando os olhos. a boca entreaberta.
- eu já terminei.
sua voz calava o oceano atlântico.
e eu, permiti a seu corpo apenas a tornozeleira de palha.
3 comments:
"o céu partido no meio do nada"
céu vermelho é coisa rara. assim como momentos tão poéticos, retratados nesse conto. Parabéns!
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