11.11.11

nem que seja ontem

múltiplos umbigos,
desenhados por lábios.


em frente, os dedos caminham, dedilham
: nas curvas do corpo, uma canção.

abrir quadris, dobrar colunas.
fustigar as coxas.

- jorrar, em conjunto, pel'alma, boca, púbis.

4.11.11

antes ou depois

- depois -

ficaram as marcas de pés no painel e no para-brisa do carro. pelo retrovisor, desfiava-se uma imagem de passado, um corolário da lei maior e suprema. nos permitimos.

o silêncio da paisagem permitia ouvir um cantarolar. do banco do carona, a enigmática canção anunciando o dia que penetrava por detrás dos semi-círculos esverdeados. um bater de lábios delicados, talvez mais perceptível do que a a própria melodia.

- Coloca "the balad of hollis brown"?

o pedido inusitado, apressou minhas mãos na caça por um disco do velho Dylan, perdido no portaluva, em meio a papéis velhos, lembranças gastas, objetos sem sentido, que agora - pouco importavam.

- You looked for work and money
And you walked a rugged mile
 
o vidro entreaberto agora permitia que o vento percorresse seu rosto, desarumasse sua franja. apresentasse sua expressão cansada, sempre disfarçada pelo olhar especial.

aos poucos ela abriu o vidro, projetou meio corpo para fora, deixou-se tocar pelos primeiros raios do sol, e a voz tímida foi projetada ao horizonte de ninguém.

- There's seven breezes a-blowin'
All around the cabin door
 
para que chegar? eu já estava lá.


- antes -

pouca coisa se disse. nos encontramos na cafeteria, na seção de bluerays. talvez, pela timidez de ali estar, nenhum dos dois quis sequer trocar palavras.

a noite, a tentativa de trocar palavras, não avançou. Em vão, a estratégia de trazer uma bebida, ainda nos jardins falhou. silêncio sepulcral. olhares distantes.

- Tim, tim!

foi o suficiente para que eu me sentisse o mais perfeito idiota.

em muitas horas, ela dança sozinha. verga o corpo, movimenta quadris e joga o cabelo para os lados. ao final, apenas um bilhete colocado no meu bolso, no corredor do banheiro.

Me leva pra longe daqui.


Foto: Jaime Lee


3.11.11

duas doses

entre duas doses findando a sede
e um perfume de madrugada,
apressando o alvorecer.

seguindo os passos de uma dança
que eu nunca compreeendi,
buscando o atalho.

sinalizando o toque de mãos
como quem diria:
"é o que basta".


restava ao sol nascente, apressado,
apenas a lembrança em migalhas
do estranho dia passado.

e o sorriso - ah, o sorriso!
é coisa que não se esquece,
ainda que fique para trás.